Palmira Macias, professora do antigo Conservatório Nacional e que chegou a ser minha colega no de Santarém, proferiu uma frase que nunca mais esqueci:
“O silêncio é de outro quando a palavra é de prata e a música de lata.”
Na altura ri-me com a profundidade do ditado. Ignorava o quanto tal tipo de música se tornaria omnipresente 20 anos mais tarde e mais, como se degradaria ao ponto da pior música do início dos anos 90 ser pelo menos tão boa quanto a música regular que se faz hoje, dentro deste ramo de “música” bem entendido.
Mas começemos pela análise dos estatutos dos metais.
É certo que a lata, ou latão, não é considerada uma liga das mais nobres. É uma mistura de cobre e de zinco. O bronze é também uma liga de cobre, mas pode conter diversos outros elementos. Tem de qualquer modo um estatuto mais nobre, pois surge abaixo do ouro e da prata nas classificações desportivas. A platina ainda está acima do ouro. Assim sendo a lata, ou latão surge bem abaixo no estatuto referido de metais preciosos e ligas metálicas.
Porém como classificar uma música repetitiva, apenas com uma base rítmica muito simples em que a melodia é muito simples ou inexistente e a harmonia praticamente não muda?
Música estúpida seria um bom termo parece-me. Quem gosta desse tipo de música só pode ter um QI de 2 dígitos, e claro uma muito baixa inteligência musical.
E em meu entender não por culpa exclusiva dessa pessoa, mas de um sistema estupidificante nos seus meios de educação e de informação (desiformação na verdade). Mas esse é outro assunto de resto aqui discutido.
Essa música “estúpida” é uma música normalmente com um andamento não inferior a 90 batidas por segundo, podendo chegar às 120. As estruturas acústicas têm de 3 a 4 segundos, mais que isso é raro. Repetem-se ad infinitum com poucas variações, normalmente com sonbreposições de decorações que não a alteram em absoluto. A "música" pode ter até 1 minuto seguido em que a estrutura se repete SEM variações e sempre com 1 (um) mesmo acorde ou harmonia.
Esta música que poderiamos também apelidar “de merda” é frequentemente – felizmente não exclusivamente - usada em discotecas ginásios e eventos públicos. (Embora por razões de higiene me repugne usar este termo, ainda ssim parece-me o mais apropriado.)
Como se hoje em dia dançar, praticar desporto e reunirmo-nos, excluissem pensar ou a capacidade de ouvir música como um edifício acústico bem construido.
A música dita pimba, com melodias e harmonias mais que estafadas e previsíveis, um ritmo de métrica binária com padrões repetitivos, é também omnipresnte para onde quer que vamos: centros comerciais grandes e pequenos, Metro, cafés, bares, restaurantes, em locais e em eventos públicos. Esta música pimba, com mais ou menos variações estilísticas ou de letra, está ainda assim bem acima da “música de merda”. Mas para evitar este último termo podemos arranjar uma classificação de gradações na música de lata, por exemplo A, para "fraca"; B para “má”; C para “pior”; e D para “péssima”.
Constatemos também que a sua omnipresença é já neste momento globalizante. De facto canais de TV main sttream e mesmo non stream media têm indicativos de programas que primoram por serem merda de boa qualidade. Ok Ok. . . música de lata de qualidade B/C.
A última vez que ouvi a Bloomberg, tinha mesmo os indicativos qualidade D.
Um canal que lida com dinheiro, não tem dinheiro para pagar a um bom músico para fazer um indicativo de qualidade.
Ou será que as elites neste momento, que vêm a Bloomberg já perderam o gosto artístico que tinham no passado? Ou antes será que estão tão acima de nós que nem sequer vêm qualquer tipo de TV?
E refugiados nos seus Mozart e Bach deixam indiferentes, que a música de lata se espalhe pela ralé?
Questões que espero alguém se debruçe um dia, ou se já alguém o fez que me chegue essa informação.
Para terminar gostaria de relacionar a música de lata com a regra 80-20 de Wilfredo Pareto. Este sociólogo italiano definiu que 80% da riqueza em Itália estava na mão de 20% da população, e que 80% desta apenas detinha 20% daquela.
Esta regra passou a ser usada na economia. Por. ex.: num banco 80% dos rendimentos vem de 20% dos clientes e vice-versa. Estatisticamente vemos esta regra aplicar-se a muitas situações da vida real mais coisa menos coisa.
Assim constatar que apenas 20% da população tem um QI de 3 dígitos enquanto 80% da população tem um QI de 2. . . mais coisa menos coisa deve ser verdade.
Pela minha parte continuo a usar a música como um indicativo de desenvolvimento social. Espero que na melhor das hipóteses e com o aprofundar das ciências que se desenvolvem em torno da música, num futuro não muito distante, esta será um indicador de desenvolvimento social tal como hoje são os dados sócio-económicos dos diversos países.
A música de lata espero seja então reconhecida com um indicador de baixo desenvolvimento. . .
. . . porque senão, estaremos seguramente numa nova Idade Média.
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